segunda-feira, 19 de março de 2012

Desesperadamente descontente


Se você vier me perguntar por onde andei, no tempo em que você sonhava
De olhos abertos lhe direi: Amigo, eu me desesperava
Sei que assim falando pensas, que esse desespero é moda em 73
Mas ando meio descontente, desesperadamente em grito em português:
Tenho 25 anos de sonhos e sangue e de América do Sul
Por conta desse destino o tango argentino me cai bem melhor que o blues
Sei que assim falando pensas, que esse desespero é moda em 73 
Eu quero é que esse canto torto feito faca corte a carne de vocês

quarta-feira, 7 de março de 2012

O homem e a dança sob uma perspectiva feminina

Fazendo uma timeline da vida masculina em relação à dança, quando digo dança, refiro-me a dança a dois, que é a única que os homens se entregavam e ainda se entregam sem (tanto) preconceito.
Antigamente, os homens se aproximavam dos salões de baile, porque era lá onde eles tinham a oportunidade de estabelecer um certo contato físico inicial com mulheres. Claro, que existiam os verdadeiramente dedicados à arte da dança, como ainda hoje existe. Mas, o que enchia os salões mesmo eram os flertes, as danças, os olhares, a oportunidade de fazer tudo isso velados por uma inocente contra-dança.
Aí, a atração, o fascínio pela dança deu uma esfriada por parte dos homens. Afinal, independência feminina, queima de sutiãs, direitos iguais e blá, blá, blá...e não era mais preciso artimanhas dançantes para estar próximo a uma mulher. Os amantes verdadeiros da dança continuaram dedicando-se à ela, massssssssssss aquela fama já conhecida pelos dançarinos das artes clássicas começou a se estender também a dança a dois. Homem que dança é gay.
Claro, porque se não havia mais necessidade de buscar a dança para se estar com uma mulher, continuar a praticar toda aquela malemolência, rebolação, passos marcados e demonstrar uma certa educação só podia ser um sério desvio de orientação sexual.
Aí, novamente mais uma evolução. Banalização das relações, do sexo, dos compromissos e ó! Tcha-ran! A dança a dois volta ser moda. Começa a virar programa de tv, começam as iniciativas pela profissionalização, volta o interesse do povo.
Lindo, tudo lindo, homens e mulheres dançando juntos novamente. A volta do charme, a volta do flerte, a volta do dançar por dançar mesmo. Porque, diferente do que ocorre nas boates, baladas, nights no mundo a fora, um homem ou uma mulher que se aproxima de você no baile, não necessariamente está afim de você. Ele(a) pode estar afim somente de uma dança. Mas claro, que se houver o interesse a coisa anda de uma forma muito mais interessante do que no "mundo". Você dança, você sente o corpo do outro, a firmeza ou a leveza da condução, ai se olha, encosta um pouco mais e no fim da dança tudo que podia ser dito não é mais necessário. O interesse já foi demonstrado. A partir daí é só uma boa conversa, uma troca de telefones, um novo encontro no salão ou fora dele e já foi! Simples e tranquilo, e, melhor...indolor. Agoraaaaaaaaaaa, a manutenção disso já não é mais com e nem culpa da dança.
Mas já diria o poeta Joseph Climber: a vida é uma caixinha de surpresas.
E eis que a canalhice atinge a dança. Da mesma forma que em toda a evolução da mulher ela se perdeu em seus conceitos e ganhou vários apelidos de frutas e animais por aí...os homens por sua vez também botaram suas manguinhas de fora e mostraram seu lado "casablanca". Só que isso nunca tinha atingido os bailes de dança. Até hoje.
As mulheres, digamos assim, aparentadas com penadas vem chegando aos poucos nos salões, mas seu lugar de ataque ainda é onde é escuro e as pessoas não conseguem manter-se em pé devido a quantidade de álcool ingerida e todos andam com chave de carro e nextel para fora da calça. Já os homens, digamos assim, muleke-piranha, esse sim estão invadindo os antes inocente salões de dança. Hoje, em dia, as mulheres são chamadas para dançar e tem que estabelecer uma linha de defesa que nunca foi necessária. Aos primeiros segundos de música que eram para os parceiros se acostumarem com o outro, para um se aconchegar ao outro, o cara hoje já ta se aconchegando em você de uma forma bastante aconchegada para o gosto de qualquer um. Aí a dança continua e começam os passinhos, mas o alerta precisa continuar ligado, porque na volta de um cambret ou de um giro você pode se deparar com um rosto tão próximo, e uma boca pronta para receber a sua, você querendo ou não. Em um puladinho, hoje em dia, você corre o risco de conhecer a potencia do rapaz nas suas pernas de uma forma bastante incomoda se não sufocante, porque você também não consegue dançar já que está sufocando nos braços do seu parceiro que está mais preocupado em sentir cada pedaço do seu corpo desconfortavelmente grudado nele do que em dançar de verdade.
Eu como mulher, acho essa realidade muito triste. Porque eu realmente gostava e gosto de dançar. E dançar por dançar. Nada contra o flerte e o romance na dança a dois...mas essa banalização daquela atividade que era tão gostosa, prazerosa e até inocente me irrita.
A dança te oferece o que você busca. Apenas uma dança. Amigos. Visibilidade. Distração. Flerte. Romance. Mas tudo isso como a própria designação "à dois". Quando os dois querem.
Essa de os "novos tarados" do salão ta por fora!
Meninos, voltem a ser homens, como a mãe de vocês certamente ensinou, que respeitam e não impõe a sua vontade e desejo acima de tudo. Você dança? Algum diferencial você tem. Logo, não precisa de mais nada além de uma boa condução, passos firmes e um sorriso no rosto para impressionar e se tornar motivo de interesse de nós, mulheres.